+ Meu comandante, temos outro caso de dissidente. Trata-se do PTR.
— O PTR? O que fez agora esse filho da...?
+ Declarou que a nossa doutrina lhe parece uma parvoíce e que vai por livre. De facto acaba de publicar na rede um manual de princípios e já teve descargas demais.
— Há que neutralizá-lo, entendeu?
+ Meu comandante, já sabe que o PTR está nas listas negras desde há anos.
— Sei... Mas parece que não chegou com isso...
+ Não parece, meu comandante.
— Foi banida a sua presença em todos os nossos congressos, atos formais e demais, certo?
+ Foi.
— Está vetado em todas as nossas publicações soveranas?
+ Está.
— E uma campanha de desprestígio através dos nossos agentes na sombra?
+ Já se lhe fizeram pelo menos duas, que eu saiba
— Então não sei o que ganha com isto e como tem a coragem de fazer o que faz. Apesar da marginalização a que foi submetido, vejo que continua a tocar o caralho, porque por causa da internet tem voz... Agente Caeiro, há que tomar medidas drásticas contra o PTR, já me entende...
+ Quer dizer que pareça um acidente?
— Não seja burro, caralho, que somos a polícia linguística, não a polícia policial. Ainda que já gostaria eu, já gostaria...
+ Desculpe, meu comandante, o que disse isso último que não ouvi?
— Que não seja burro e que pense na maneira em neutralizar esse dissidente... Entendeu?
Frantz Ferentz, 2014